terça-feira, 20 de maio de 2014

Mas Falando De Coisas Boas

No momento nostalgia em que me encontro, abro minha rede social e vejo uma página criada só com fotos da cidadezinha onde passei minha infância.
Minhas férias eram sempre esperadas e curtidas naquela cidade com seu cheiro e paladar tão próprios!
Ah, como sempre fui bem recebida naquela cidade! Como amava aquelas pessoas!
Preciso dizer que fui tão reprimida que até as minhas manifestações de afeto eram recriminadas, tinham olhar de reprovação...mas eu até chorava de tanto amor.
Como eu queria viver aquela vida pacata, daquela cidade, com aquelas pessoas e aquele café cheiroso!
Então eu comecei a acompanhar essa página na internet e ver, quase que diariamente, fotos que me lembravam a infância ou me faziam ver como o tempo havia passado.
Meu Deus, será isso a tal da nostalgia, muito comum em pessoas de uma "certa idade"?
Acho graça porque quando meus avós lembravam de coisas e pessoas do "tempo deles", para mim era algo tão longínquo e quase engraçado, e agora eu me vejo falando, lembrando e gostando de saber de momentos já arquivados em outras épocas de minha vida, que já poderia, inclusive, contar aos meus filhos, como me foram contados esses outros, pelos meus avós.
Ah, era muito bom.
Falo de uma cidadezinha mineira, de ar gelado, nas madrugadas que chegávamos, de carro e acordávamos a vó, as tias, e éramos recebidos com aquele café fresquinho, pãozinho quentinho e cheiroso e conversa mansa, de madrugada que fora acordada para nos receber.
Eu gostava da minha avó de lá. Estava sempre de anágua, colar de pérolas, meia calça, sapatinho de salto.
Lembro que minhas tias gostavam de enfeitá-la.
Minha mãe não tinha esse referencial de mãe, de mulher, de família. meu lado materno sempre foi mais estranho.
Mas o lado paterno tinha função, tinha hierarquia, tinha mãe, tinha meninas, primas, tias que falavam alto, tinham marido, aliança grossa de ouro no dedo, salto alto, missa, almoço, sorriso, modos, família.
E eu me deliciava quando ia pra lá. Gostava mesmo e queria ficar.
Eu era muito agarrada com meus avós maternos mas era lá, não fosse por isso, que eu gostaria de ter ficado.
A gente sabe onde a nossa alma se sente feliz. Todo o resto parece agonia. E eu era uma menina agoniada até chegarem as férias e eu poder viajar, ter liberdade de andar pela cidade e tomar café na casa de um, almoçar na casa de outro e viver livre, alegre, feliz e perdida.
Perdida porque aquilo não era a minha realidade e acho que até hoje não saberia me comportar naquela realidade.
Mas não sou mais aquela menina e posso aprender mais rápido sem ser julgada ou discriminada. Só ignorante, por desconhecer aquele modo simples e verdadeiro de ser feliz.
Ainda volto lá, quero que meus filhos conheçam aquela cidade, de prédios altos agora mas ainda de bosta de cavalo no chão de paralelepípedo do centro da cidade onde fica  a igreja, a praça e tantas recordações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário